0 Carrinho
R$74,90
Comprar
R$52,40

sobre o livro

Não é à toa que Jonathan Lethem afirma no prefácio desta edição que Gelo “é uma narrativa como a lua é a lua. Só existe uma.” Experimental, onírico e inebriante, o romance de Anna Kavan teve um percurso particular desde sua primeira publicação, em 1967. Se por um lado Kavan foi consagrada pela crítica — que a filiou a escritores canônicos como Kafka, Woolf ou Beckett — e despertou a admiração de autoras como Anaïs Nin e Doris Lessing, por outro lado, a ficcionista inglesa que adotava como pseudônimo o nome de uma de suas personagens foi menos lida do que merecia, de certo em razão de suas rupturas narrativas desconcertantes.

Em meio a uma iminente catástrofe ambiental que destruirá o planeta com uma avalanche de gelo, três protagonistas inominados e envolvidos em um suposto triângulo amoroso tentam se salvar a um só tempo da destruição que se aproxima e uns dos outros. O narrador, “a garota” e o “guardião” estão sempre a um passo da aniquilação, da guerra dos homens diante da escassez de recursos, da violência de seu próprio relacionamento e das imensas paredes gélidas que engolfam seus caminhos em ambiente e tempo não definidos. Sempre no encalço da garota cristalina de cabelos brancos de tão loiros, os dois homens não poupam brutalidade para protegê-la, tratando-a como vítima incapaz e indefesa.

Tudo em Gelo parece ruir e escapar inclusive da leitura mais atenta, como se a brancura gélida cegasse a percepção. Mas, como é comum acontecer com obras de vanguarda, o tempo vem realçando o caráter antecipatório do livro ao evidenciar mais de um aspecto central da narrativa: ao lado do protofeminismo do romance, subjaz nele a certeza de que ação destrutiva do homem sobre a natureza invariavelmente o levará à extinção.

Embora temas pós-apocalípticos já fossem comuns na literatura do período pós Segunda Guerra Mundial, sobretudo pela falta de saída em que se encontravam os indivíduos fraturados, é inevitável ler Gelo nos dias de hoje sem associá-lo ao panorama das mudanças climáticas, tema do posfácio desta edição, assinado pela pesquisadora inglesa Victoria Walker. Não apenas pela escolha temática, mas por sua linguagem e forma, o romance pode ser lido como uma poderosa representação literária do antropoceno e do apocalipse ecológico prenunciado pela genialidade fugidia de Kavan.

Título
Gelo
Tradução
Camila Von Holdefer
Prefácio
Jonathan Lethem
Posfácio
Victoria Walker
Páginas
208
capa
Giovana Cianelli
ISBN
9786589733447
ISBN Digital
9786589733454
Data da publicação
24/03/2022

Destaque

“A leitura de Gelo é uma experiência desorientadora e, por vezes, esgotante emocionalmente, afinal alguém hoje em dia pode se convencer de que Kavan previu o futuro. (…) Meio século depois de sua publicação, o delírio febril da autora está começando a parecer real demais.” – The New Yorker

Navegando no site, estes cookies coletarão dados pessoais indiretos. Para saber mais, leia nossa política de privacidade.